sexta-feira, 11 de outubro de 2019

Resgate Histórico: Saberes pessoais e pré-profissionais

Ao contrário do processo de alfabetização de muita gente, o meu se deu de um modo tão prazeroso que me lembro dele como algo muito natural, quase que orgânico, tendo consciência, evidentemente, que a aquisição do código de escrita alfabético não se dá de forma natural e sim a partir de métodos e técnicas para que este fim seja alcançado.
Eu não tive acesso à Educação Infantil, já que, meus pais não tinham condições de investir em uma instituição particular de ensino e esta etapa da educação só passou a integrar a Educação Básica, com seu acesso e gratuidade legalmente garantidos, a partir da Lei 9394/96, a Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional (LDB).
Deste modo, eu entrei na escola aos 6 anos, no ano de 1997, na antiga primeira série do Ensino Fundamental.
Era uma instituição pública que ficava próxima à minha casa.
A escola era pequena, tinha apenas duas salas de aula. As salas eram amplas, com muitas janelas, bem arejadas.
Eu estudava à tarde e adorava ir para a escola. Sentava na frente, era uma das alunas mais queridas da professora.
Na escola eu fui alfabetizada com o método da cartilha e um recurso muito utilizado para embelezar a letra dos alunos era o caderno de caligrafia, que eu fazia com gosto, pois, adorava os elogios sobre a minha letra.
Acredito que minha alfabetização aconteceu em um duplo processo: as aprendizagens da escola e as aprendizagens a partir das atividades e leituras que eu fazia com uma tia minha, que tinha um bar, onde todas as manhãs eu me sentava numa mesa com ela e íamos ler textos e fazer as atividades. Eu adorava esse momento porque era descontraído e era muito nítido para mim o quanto eu estava aprendendo de forma rápida, isso me empolgava.
Diferente do que ocorre hoje, quando é comum se ver notícias de alunos e mesmos pais e mães de alunos agredindo professor, naquela época, a escola, bem como os educadores eram vistos como detentores do saber e, geralmente, os pais e mães tinham muito respeito pelos professores e passavam isso para os filhos.
As aprendizagens construídas ao longo do curso de pedagogia me servem como suporte para enxergar a escola com olhar crítico e atento.
Se antes – e por que não usar de um clichê?! – no meu tempo, a escola era vista pela classe trabalhadora, como principal meio de ascensão social, e portanto, tinha o seu valor reconhecido; hoje, num tempo em que temos um presidente da república e um ministro da educação que repetem à exaustão que universidade é balbúrdia e que os professores da educação básica são doutrinadores de crianças, a escola vem perdendo o seu prestígio diante da sociedade.
Neste sentido, penso que é imprescindível que nós educadores assumamos uma postura crítica frente aos discursos sobre a educação, com vistas a perceber as intenções que os medeiam.
Penso também ser necessário que tenhamos claro em mente o papel da educação, e especialmente, o papel da escola, nossa trincheira.
Neste sentido, advogo em favor de nos afastarmos tanto da visão não crítica, que, anulando a relação entre escola e sociedade e suas dependências uma da outra, coloca na educação a responsabilidade de salvar os cidadãos dos males sociais, bem como, da visão crítico-reprodutivista, que, enfatizando a dependência da educação ante à estrutura social, retira-lhe toda e qualquer possibilidade de transformação.
Deste modo, defendo uma visão crítica, que, considerando a influência da sociedade na educação, enxerga também um viés de transformação a partir da realidade histórica da qual se parte, pois, como afirma Saviani,
a educação é mediação, isto significa que ela não se justifica por si mesma, mas tem sua razão de ser nos efeitos que se prolongam para além dela e que persistem mesmo após a cessação da ação pedagógica. Considerando-se, [...] que, dado o caráter da educação como mediação no seio da prática social global, a relação pedagógica tem na prática social o seu ponto de partida e seu ponto de chegada, resulta inevitável concluir que o critério para se aferir o grau de democratização atingido no interior das escolas deve ser buscado na prática social. (SAVIANI, p. 76 e 77)

            Assim, tendo em vista que a principal característica da história é a transição, sabemos que a prática social é construída a partir de ações que estão em constante mudança, perfazendo o caráter de possibilidade de transformação da história e é nesta possibilidade que eu procuro inserir a minha prática educativa.

Um comentário:

  1. Parabéns pela narrativa de sua alfabetização e por advogar a favor da escola pública e de qualidade.

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