Ao contrário do processo de alfabetização de
muita gente, o meu se deu de um modo tão prazeroso que me lembro dele como algo
muito natural, quase que orgânico, tendo consciência, evidentemente, que a
aquisição do código de escrita alfabético não se dá de forma natural e sim a
partir de métodos e técnicas para que este fim seja alcançado.
Eu não tive acesso à Educação Infantil, já
que, meus pais não tinham condições de investir em uma instituição particular
de ensino e esta etapa da educação só passou a integrar a Educação Básica, com
seu acesso e gratuidade legalmente garantidos, a partir da Lei 9394/96, a Lei
de Diretrizes e Base da Educação Nacional (LDB).
Deste modo, eu entrei na escola aos 6 anos, no
ano de 1997, na antiga primeira série do Ensino Fundamental.
Era uma instituição pública que ficava próxima
à minha casa.
A escola era pequena, tinha apenas duas salas
de aula. As salas eram amplas, com muitas janelas, bem arejadas.
Eu estudava à tarde e adorava ir para a
escola. Sentava na frente, era uma das alunas mais queridas da professora.
Na escola eu fui alfabetizada com o método da
cartilha e um recurso muito utilizado para embelezar a letra dos alunos era o
caderno de caligrafia, que eu fazia com gosto, pois, adorava os elogios sobre a
minha letra.
Acredito que minha alfabetização aconteceu em
um duplo processo: as aprendizagens da escola e as aprendizagens a partir das
atividades e leituras que eu fazia com uma tia minha, que tinha um bar, onde
todas as manhãs eu me sentava numa mesa com ela e íamos ler textos e fazer as
atividades. Eu adorava esse momento porque era descontraído e era muito nítido
para mim o quanto eu estava aprendendo de forma rápida, isso me empolgava.
Diferente do que ocorre hoje, quando é comum
se ver notícias de alunos e mesmos pais e mães de alunos agredindo professor, naquela
época, a escola, bem como os educadores eram vistos como detentores do saber e,
geralmente, os pais e mães tinham muito respeito pelos professores e passavam
isso para os filhos.
As aprendizagens construídas ao longo do curso
de pedagogia me servem como suporte para enxergar a escola com olhar crítico e
atento.
Se antes – e por que não usar de um clichê?! –
no meu tempo, a escola era vista pela classe trabalhadora, como principal meio
de ascensão social, e portanto, tinha o seu valor reconhecido; hoje, num tempo
em que temos um presidente da república e um ministro da educação que repetem à
exaustão que universidade é balbúrdia e que os professores da educação básica
são doutrinadores de crianças, a escola vem perdendo o seu prestígio diante da
sociedade.
Neste sentido, penso que é imprescindível que
nós educadores assumamos uma postura crítica frente aos discursos sobre a
educação, com vistas a perceber as intenções que os medeiam.
Penso também ser necessário que tenhamos claro
em mente o papel da educação, e especialmente, o papel da escola, nossa
trincheira.
Neste sentido, advogo em favor de nos
afastarmos tanto da visão não crítica, que, anulando a relação entre escola e
sociedade e suas dependências uma da outra, coloca na educação a
responsabilidade de salvar os cidadãos dos males sociais, bem como, da visão
crítico-reprodutivista, que, enfatizando a dependência da educação ante à
estrutura social, retira-lhe toda e qualquer possibilidade de transformação.
Deste modo, defendo uma visão crítica, que,
considerando a influência da sociedade na educação, enxerga também um viés de
transformação a partir da realidade histórica da qual se parte, pois, como
afirma Saviani,
a educação é mediação, isto significa que ela
não se justifica por si mesma, mas tem sua razão de ser nos efeitos que se
prolongam para além dela e que persistem mesmo após a cessação da ação
pedagógica. Considerando-se, [...] que, dado o caráter da educação como
mediação no seio da prática social global, a relação pedagógica tem na prática
social o seu ponto de partida e seu ponto de chegada, resulta inevitável
concluir que o critério para se aferir o grau de democratização atingido no
interior das escolas deve ser buscado na prática social. (SAVIANI, p. 76 e 77)
Parabéns pela narrativa de sua alfabetização e por advogar a favor da escola pública e de qualidade.
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